É senso comum que grande parte das empresas morrem nos primeiros anos. No caso das startups, esse número é ainda maior. No Estudo Causas da Mortalidade de Startups Brasileiras elaborado pelo Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, estimou-se que pelo menos 25% das startups morrem no primeiro ano e pelo 50% delas já estão mortas até o 4º ano de vida.

No livro “The Startup Curve J”, o autor Howard Love aborda justamente o ponto mais difícil e crucial dos empreendimentos inovadores, as startups. Para ele, o ponto entre o início de um negócio e quando o produto e modelo de negócios estão validados são vitais para os negócios. Esse foi nomeado por ele de “Vale da Morte das Startups” e faz parte da curva em formato “J” em mostra todas as etapas que a startup passa em direção ao sucesso.

Curva J – Vale da Morte das Startups

No vale da morte, a startup se encontram queimando caixa, ou seja, sem lucro. Ela opera buscando atingir o ponto de equilíbrio, mas encontra problemas como validação de clientes, produtos e modelos de negócios. E também é comum encontrarmos falta de planejamento, falta de maturidade dos empreendedores e até engajamento baixo por parte dos sócios.

O Vale da morte ocorre por conta da maneira o qual o investimento em startups é distribuído. No estágio inicial, quem costuma oferecer capital são amigos, família, poupança pessoal e projetos governamentais. O dinheiro do investimento anjo também costuma aparecer nesse período, mas em pequena quantidade. E nesse momento que o dinheiro é usado para desenvolver novas soluções inovadoras e tecnologias, deixando de lado o investimento no Go To market, que costuma representar menos de 1% do valor investido.

Além disso, o investidor anjo volta a investir no momento em que o empreendedor encontrou o PMF (Product Market Fit) e já está pronto para escalar e isso cria um grande gap entre o investimento inicial para desenvolver o produto e o momento em que ele escala. Esse gap é o conhecido Vale da Morte das startups.

4 FASES DO VALE DA MORTE

Esse vale é dividido em 4 fases principais, onde cada uma delas representa um tipo de desafio ao empreendedor e ao negócio. Elas são a fase da Ideação, MVP, Ajuste e validação de modelo.

FASE 1 – IDEAÇÃO

Na fase da Ideação, o empreendedor está concebendo a ideia, está desenvolvendo e conversado com pessoas para amadurecer possíveis insights que tem. Nessa fase representa a união de uma ideia com um time com características especificas que permitam colocar a ideia em prática e dinheiro para apoiar a execução.

É nesse momento em que o empreendedor trabalha vendendo a sua ideia de negócio, começa a sua primeira jornada em busca de investidores para o negócio, sendo eles amigos e família (o mais comum) ou até mesmo investidores anjos profissionais.

FASE 2 – MVP

Mínimo Produto Viável: saiba como o MVP pode ajudar a tirar seu projeto do  papel › Felipe Gubert
MVP VS Abordagem Tradicional

A segunda fase,é a fase do conhecido e batido MVP (Mínimo produto viável), fase simplificada do produto que o empreendedor quer oferecer. Esse é o momento onde o empreendedor tem que validar de forma rápida e barata o e coletar o máximo de informações possíveis, de forma a entender se está mesmo resolvendo um problema e a relevância do mesmo.

É importante dizer que o MVP não é uma solução final, é somente uma versão resumida que permite entender necessidades, valor e utilidade do que você pretende construir. Os consumidores irão te dar uma direção para aprimorar o produto.

FASE 3 – AJUSTE

O momento de ajuste é aquele em que o empreendedor para avaliar e caso necessário, mudar seu produto radicalmente até o ponto em que você consiga encontrar o seu Product Market Fit, ou seja, encontrar um grupo de pessoas ou empresas dispostas a pagar pelo produto ou serviço que você está oferecendo de forma frequente.

FASE 4 – MODELO DE NEGÓCIO

A 4ª e ultima fase do vale da morte é a validação do modelo de negócio, é onde o empreendedor  tem que pensar estrategicamente sobre os números do negócio e descobrir a forma de cobrar pelo produto/serviço que trará o maior retorno e crescimento a longo prazo. Não passar por essa fase pode fazer o empreendedor gastar muito dinheiro no crescimento e acabar não atingindo os objetivos esperados.

ALÉM DO VALE E AS CONSEQUENCIAS

Além das 4 fases do “Vale da Morte das Startups”, existem as fases de expansão e consolidação de mercado, mas essas não são tão mortais quanto as primeiras. Existem desafio mas há acesso a capital e investidores anjos e grupos VC’s estão mais propensos a auxiliar o negócio. Nas primeiras há um GAP de capital, onde negócios tem dificuldade em fazer empréstimos e precisam ajustar o planejamento de rodadas de investimentos para que ocorram de forma quase perfeita, pois correm o risco de não conseguir chegar a uma próxima rodada caso não aconteça.  E se o empreendedor planejou mal suas captações, o seu runaway, as fase podem ser ainda mais aterrorizante, pois além de todos os problemas específicos de cada etapa, há a limitação de capital.

MORTES

Uma pesquisa do Sebrae mostrou que os principais motivos que levam essas empresas a fecharem as portas são acesso ao capital (42%), dificuldades para entrar no mercado (21%) e problemas na gestão do negócio (12%). Além dos aspectos comuns e recorrentes como gestão, financeiro e barreiras, há três fatores significativos e específicos que podem aumentar o risco para startups, segundo a pesquisa da FDC. Eles são:

1 – NÚMERO DE SÓCIOS

Apesar das pessoas entenderem que o número de sócios aumenta as habilidades da equipe, um número mais sócios representa maior risco de morte para a startup. Quanto mais sócios no início da jornada, maior é o risco. A principal causa apontada é a dificuldade de adaptação e problemas de relacionamento

2 – CAPITAL APÓS INÍCIO DA ATIVIDADE COM RUNAWAY CURTO

Empresas que tem 2 meses a 1 ano de capital tem chance significativamente maior de dar errado em relação a quem tem um runaway MAIOR ou MENOR. O risco de descontinuidade para esse runaway de 2 meses a 1 ano chega a ser 3,2x maior que aquelas startups com apenas 1 mês de capital e de 2a 2.5x maior em relação aquela startup que tem mais de um ano de custos operacionais garantidos por investimento, empréstimos, etc…

3 – LOCALIZAÇÃO DA STARTUP

Ao compararmos salas e escritórios com aceleradoras, incubadoras e parques tecnológicos, percebe-se que startups em ambientes de inovação tem chance 3,45x menor de fechar.

COMO SE PROTEGER

Criar planos A, B, C e construir a startup de forma que ela passe por todas as fases pode garantir a sobrevivência do empreendimento. E ao internalizar que empreender não é uma corrida de 100m e sim uma maratona, o empreendedor tem mais chances de sucesso. Correr e fazer de forma desleixada cada uma das fases pode significar deixar de validar modelos de negócios, clientes, produtos, não fazer testes de conceito e montar equipe não compatível com o negócio proposto. Além disso, é preciso estar ciente que é extremamente necessário ter as habilidade necessárias para execução do projeto proposto. E não se assuste, mesmo quando essas etapas são seguidas de forma rigorosa, não há garantia de sucesso. Só que não segui-las pode garantir o fracasso.