O vento apaga uma vela e energiza o fogo. O mesmo acontece com a aleatoriedade, a incerteza, o caos: você quer usá-los, e não fugir deles”.

Assim Nassim Nicholas Taleb começa seu Best-seller e obra principal, Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o caos. Nele, Taleb trás ao mundo a palavra antifrágil, que abrange as coisas e as ideias que não só se beneficiam com o caos, mas que precisam dele para sobreviver. Ele apresenta a incerteza como algo necessário à vida, de forma que somente com ela é possível que o mundo prospere.

Antifrágil é de fato um conceito profundo que precisa ser estudado e entendido.  Apesar de percebermos apenas instintivamente, muitas coisas na vida se beneficiam do nervosismo, da desordem e da agitação.

Entendendo o conceito

Ao pensarmos no inverso do positivo, logo vem à mente o negativo. Mas quando falamos do trio frágil, robusto e antifrágil, o robusto é o neutro, não o oposto de frágil. Ele sai ileso, aguenta o choque em uma situação de estresse e incerteza. E o frágil, ele vai desaparecer nesses momentos ruins, ele vai sofrer o choque, o estresse e sairá do jogo. Por isso precisamos do antifrágil, para representar aquele que se beneficia da incerteza e da volatilidade. Tendo esse novo termo como uma de suas justificativas o fato que a maioria das línguas não tem uma palavra especifica para tal conceito.

Para muitos uma coisa nova, a antifragilidade pode nos ajudar a passar por problemas diversos, caso entendermos que o mundo aprecia e tem como padrão a aleatoriedade (economia, nosso corpo, a psique, a natureza), e que o nosso papel como ser humano não é remediar diante o caos, mas tentar tirar proveitos de situações que são vistas como ruins. Pois, temos como natureza, a capacidade e o costume de se sair muito bem com o estresse e o caótico.

Frágil, Robusto e Antifrágil

Antes de desenvolvermos profundamente o tema, imagine um prato de porcelana caindo e quebrando, ele é frágil. Agora, imagine uma pedra caindo no chão, ela continua como antes, é robusta. Fazendo uma relação, temos hoje diversos palestrantes falando sobre como ser resiliente e sobreviver ao mundo tecnológico. Só que, sobreviver não é tudo que podemos fazer, é o meio do caminho. Por tanto, o antifrágil surge aqui, pois além de resistir ao cair no chão, ele ficará mais forte. Se temos -1, sendo o frágil(o que quebra), para +1, o robusto está no meio do caminho, sendo o 0, e precisamos de algo, que ao cair, ao sofrer estresse, melhore. Aqui está o pulo do gato!

Deixado claro que ser robusto é muito diferente de ser antifrágil. Podemos exemplificar diversas situações de como podemos melhorar ao ser submetido ao agente estressor, ou seja, ser antifrágil.

O tomador de venenos

Você já ouviu a historia do Rei Mitrídates?

120 anos antes de Cristo, ele viu seu pai (de mesmo nome) morrer. Mas não foi quando este estava velho, deitado numa cama, e sim no meio de um banquete. Ele foi envenenado, sufocou e morreu na frente dos seus convidados. E o assassino? Nunca foi descoberto.

Isso impactou e mudou a vida do jovem príncipe, que logo se tornara Rei. Com medo de ser envenenado também, todos os dias, ele consumia pequenas quantidades de veneno. Com o tempo, a dose que ele tomava foi aumentando gradativamente, até que seu corpo se tornou imune, sobrevivendo a varias tentativas de assassinato por envenenamento e prendendo aqueles que o atacavam.

O BIRLLLLLLL Antifrágil

Todo mundo tem aquele amigo que faz academia todos os dias para aumentar a força muscular e deixar o corpo mais musculoso. Isso significa que ele tem uma rotina de treinos no qual deve fazer movimentos com cargas. Ao fazer esses movimentos, seu amigo agride e estressa o músculo, e então, ele se tornará forte à medida que as semanas forem passando e no longo prazo, terá um corpo mais musculoso, um corpo antifragil.

Mas por que é um erro tentar controlar a volatilidade? Porque não devemos interferir?

Chega a ser quase uma obsessão do ser humano tentar eliminar a variação e aleatoriedade. Tentamos criar sistemas artificiais controlados e planejados. Analisamos duas ou três variáveis em detrimento de outras cinco mil, e acreditamos que vamos conseguir fazer previsões corretas.

Só que é preciso cuidado para fazer essas analises e tentar acabar com os riscos, pois, vivemos em ambientes complexos, em sistemas interdependentes, e é muito difícil detectar causa e efeito.

Tentar atacar a aleatoriedade aumenta as chances de um efeito colateral muito maior e pior do qualquer beneficio que poderia ser causado com um controle artificial com base em previsões. E a antifragilidade vai em sentido oposto à previsão, focando apenas em procurar fragilidades dos sistemas, e não buscar antecipar evento algum.

Eu poderia me arriscar e dizer que o segredo da vida é a antifragilidade. E portanto, não devemos controlar os sistemas.

O agente estressor é a fonte de informação

Não colocamos o casaco porque vimos a previsão, mas porque está frio. Não vamos ao médico quando achamos que podemos estar com um problema, só vamos quando há desconforto. Ou seja, temos nosso corpo trabalhando absorvendo as informações do ambiente o tempo todo, e não é a inteligência ou a capacidade de raciocinar e calcular que nos faz tomar decisões como beber água ou vestir uma blusa de frio. Isso acontece por conta do estresse, da experiência, por meio de hormônios. O universo funciona como uma grande fonte de informação. E tirar isso, tirar a volatilidade é estar refém da vida, pois não haverá melhora, não haverá crescimento ou aprimoramento. A nossa busca por eliminação do sofrimento faz com que não levemos em consideração o conhecimento e informação que a dor trás, e tende a matar uma grande fonte de inteligência.

O caminho para antifragilidade

Por muitos considerado o principal e mais importante ponto ensinado por Taleb, o primeiro passo antifragilidade nada mais é do que a busca pela diminuição das desvantagens. De forma que isso tem que acontecer em detrimento de aumentar as vantagens. Diminuí-las significaria reduzir o efeito de eventos raros que possa nós prejudicar (também chamados de Cisnes negros negativos).

Para ele, esse passo não é uma opção(sim, é obrigação) e não pode ser ignorada, pois o dano, caso estejamos frágeis, é irreversível. É uma exigência que fará com que não soframos com o caos, nos tira da rota do fracasso e nos leva para a rota do sucesso.

O segundo e importante passo, é entender que a antifragilidade não é apenas se proteger, mas saber como ganhar. Taleb afirma que a “antifragilidade é a combinação da agressividade com a paranoia”, de forma que, após a proteção, devemos nos aventurar com grandes incertezas, fazendo apostas que tem possibilidade de ganhos gigantescos e perdas pequenas(que só são assim por conta da diminuição das desvantagens).

E, olhando em um único contexto, a união desses dois passos é uma estratégia que consiste em se afastar do médio e permanecer nos extremos. Se preparando para o pior (eliminando as desvantagens) e para o melhor (sendo agressivo e se aventurando).

Turistificação da mãe coruja e a criação antifrágil

Você já deve ter visto por aí pais e mães que tentam criar seus filhos em um ambiente sem aleatoriedade, limitado e controlado, deixando as crianças presas. Isso é o que Taleb chamou em seu livro de “A turistificação da mãe coruja”, sendo a turistificação, aquele planejamento intenso de cada passo dado. Nesse caso, o passo do filho.

Eles tentam eliminar a tentativa e erro da vida dos filhos, os afastam do aleatório e os transformam em pessoas que funcionam sob contextos criados da realidade protegidos.  Fazem das crianças “computadores lentos” sem nenhuma capacidade de criar conexões com o que aprendem.

As pessoas que foram inseridas nesse tipo de ambiente não receberam muita informação, não evoluem, estagnam, ficam vulneráveis, extremamente frágeis. De forma a não se aprimorar com as novas informações, com as interações que poderia ter tido com o ambiente.

Pais como a “mãe coruja” tem boa intenção, mas não pensam nas consequências. E na tentativa de eliminar qualquer tipo de volatilidade da vida do filho o deixa vulnerável e não o prepara para problemas futuros.

Portanto, é necessário deixar o filho correr riscos em ambientes controlados e testar a aleatoriedade na vida dele. Se isso não ocorrer, vai deixa-los funcionando bem apenas em ambientes perfeitos, não aleatórios, artificiais. Pelo menos, até que a realidade chegue e ele tome um choque, porque ele sempre viveu em algo que não existe.

Conhecimento e a Educação Antifrágil

Alguém que é brilhante na faculdade é necessariamente um bom profissional no mercado de trabalho? Um grande PHD em administração seria um bom empreendedor? Um grande jogador de Xadrez será um bom jogador de Poker?

É fácil encontrar pessoas inteligentes e referencias em suas áreas de atuação falando absurdos sobre questões econômicas, política, sobre ciências e diversos outros assuntos que não tem conhecimento profundo nas redes sociais ou em conversas casuais. Apesar dessas pessoas serem excelentes no que fazem, elas tem dificuldade de expandir suas melhores habilidades para outros assuntos. E não é fácil, fazer essa transferência de domínio é complicada. Nada é preto no branco, e infelizmente, um bom piloto de avião pode ser durante toda a vida um terrível motorista de carros.

Educação forçada x Educação Antifrágil

Mas podemos dizer que tudo isso poderia ser diferente, a conexão entre assuntos poderia ser mais fácil, a aprendizagem poderia ser mais prazerosa, poderíamos ter diversos especialistas em varias áreas. Só que temos um uma enorme limitação, a sala de aula e a educação obrigatória.

O problema da educação forçada – A sala de aula

“O que é apreendido na sala de aula permanece, em grande parte, na sala de aula.”

Taleb expõe em seu livro um sistema fracassado que sobrevive em nossa sociedade, o sistema educacional. Chega a ser consenso que pouco do se aprende na escola é útil e menos ainda é aplicado ao nosso cotidiano. A mesma aula que era dada em 1920 é dada hoje, e, ao invés de ajudar, muitas vezes atrapalha. Não consideramos as diversas formas de aprender da criança, nem seus desejos e predisposições. Ou seja, acabamos minando as futuras gerações.

Sêneca, um dos mais célebres advogados, escritores e intelectuais do Império Romano, já tinha detectado o problema da educação há séculos atrás:

“Não estudamos para a vida, mas apenas para a sala de aula”

A obrigação de estudar e o ambiente escolar tiraram o prazer e interesse de adquirir conhecimento e ler um livro. A criança, que deveria escolher um livro de acordo com sua preferência é empurrada a uma literatura massiva.  O garoto que com 5 anos, faz 5000 perguntas por dia, quando obrigado a estudar aos 6 anos, perde a curiosidade. E fica fácil entender que quando o interesse acaba: É quando aprender começa a se tornar algo chato, obrigatório sem prazer.

A sala de aula se tornou o local onde se aprende ferramentas que não são aplicadas na maioria das vezes no mundo real. Criamos o aluno inteligente, aquele que arrasa em tarefas claras e bem definidas. Mas não sabe fazer conexões, desfrutar da aleatoriedade, se virar, ir além da teoria. É inteligente em uma única área, e se mudar a cor da grama ele não entende. Em um ambiente estruturado pode até ser mais inteligentes do que outros, mas fora desse ambiente não sabe como agir.

O aluno antifrágil

Com raras exceções encontramos o aluno antifrágil, e esse muda o panorama, pois ele é autodidata. Autodidata nos assuntos que ele tem interesse, e somente neles. Esse se cerca de conhecimento e cria conexões. Ao cansar de um assunto, ele pula para outro.

Taleb é um exemplo daqueles que se tornaram autodidatas, e aplicava de forma implacável a antifragilidade nos estudos:

“No minuto em que me entediava em um livro ou assunto, partia para outro, em vez de desistir por completo da leitura – quando estamos limitados ao material escolar e ficamos entediados. Há uma tendência a desistir e não fazer nada ou matar aula em função do desanimo. O segredo é ficar entediado com um livro especifico, e não com o ato da leitura. Assim, o numero de paginas assimiladas poderá aumentar mais rapidamente do que no sentido inverso.”

Um paralelo com a vida

Não é difícil de entender porque o que você estudou na escola você já esqueceu e o que você estudou por conta própria você ainda tem na memória, tem compreensão maior. Nem o porquê o pior aluno da classe é aquele que acabou se tornando o mais bem sucedido da turma. A aprendizagem automática fragilizou o sistema e somente os autodidatas são livres. E não apenas em questões acadêmicas.

Os empreendedores se beneficiam da antifragilidade

Os empreendedores são antifrágeis, pois se beneficiam da incerteza. O que para os outros é um problema, ele enxerga como uma oportunidade. Já aqueles que não são empreendedores ou não em tal espírito, encaram aquilo que não saiu como esperado como um grande “abacaxi”, um desastre a ser encarado.

Taleb trás em seu livro como exemplo, a historia de 2 irmãos gêmeos idênticos, John e George, que moram na mesma cidade.  John trabalha a 25 anos em um grande banco, e George é taxista.  A renda de John é previsível, com salário, férias e benefícios, podendo receber prêmios ao longo dos anos por trabalho realizado. Já George tem uma licença de taxista e conta com uma renda extremamente variável. Há dias bons e ruins, tudo depende da demanda dos clientes.

O interessante nessa historia é que ano após ano George consegue igualar a renda do seu irmão. Mas devido a grande incerteza que passa todos os meses, ele lamenta por não ter segurança. Ele acredita que sua profissão é arriscada e que a do irmão é bem segura.

Mas é ai que George se engana. A imprevisibilidade e a incerteza não é arriscada, mas a segurança é. Parece confuso, mas tudo que aprendemos na nossa vida a respeito do trabalho precisa ser revisto.

Uma nova perspectiva de vida

Desde pequeno ouvimos: Estude, cresça, arrume um emprego, seja promovido e se aposente bem depois de juntar dinheiro ao longo dos anos.  Só que isso é extremamente perigoso. Muito mais perigoso do que viver em ambientes imprevisíveis. Pessoas, como George, o taxista, e tantos outros autônomos empreendedores, possuem muito mais imprevisibilidade/volatilidade na renda, mas são muito mais antifrágeis que trabalhadores salariados, que tem carteira assinada e que podem perder uma carreira de vários anos com um simples telefonema do RH. 

Se George estiver com problemas financeiros, é so ele aumentar o turno, se o movimento na região que ele escolheu não está bom, é só partir para o outro lado da cidade, ou então até a cidade vizinha, ele procura oportunidades em outro lugar. Mas John não, ele está refém do seu chefe. Portanto, George é o exemplo de Antifrágil, ele é o empreendedor.

Antifragilidade no mundo atual

A tentativa de previsão, controle e intervenção é frágil sempre vai dar errado, e isso fica evidente em diversas situações atuais, como:

  • Pequenas queimadas, quando naturais, chegam a ser benéficas para a terra, de forma que acabam limpando o terreno, as cinzas fertilizam o solo e trazem benefícios como o equilíbrio natural. Mas quando essas são controladas artificialmente, se acumula mais materiais inflamáveis no solo, de forma que quando acontece um grande evento negativo (uma grande queimada), a natureza não sobrevive.
  • Ao removermos um animal especifico da natureza, interromperemos a cadeia alimentar. Seus predadores morrerão e suas presas proliferarão sem controle, causando complicações e uma série de efeitos colaterais em cascata.
  • Toda vez que algum governo tenta domar a economia através de intervenção, regulamentação ou manipulação a economia se fragiliza. Trás tranquilidade aparente, mas retira as informações aprendidas pela inconsistência, a tentativa e erro e enfraquece o sistema. Os mercados, a produtividade e as ações caem, qualquer melhora ou controle não se mantém no longo prazo. O governo tentando tornar a economia mais previsível só que enfraquece o sistema.

Você nunca percebeu que quando informações e livros que sofrem tentativas de repudio ou censura chegam a tomar proporções tremendas?

É só lembrar os casos mais recentes, como o do Presidente Jair Bolsonaro, que ao tentar reprimir uma ação em um vídeo, ela acabou se tornando milhões de vezes mais conhecida e passou no mundo inteiro. Ou quanto as manifestações de 2013, que começaram pequenas, mas quando foram reprimidas pela polícia, ganharam uma potencia gigantesca, contagiando todo o país.

Finalmente

É importante sempre se preparar para o pior, e procurar uma forma de se beneficiar em segurança. Períodos de incerteza são inevitáveis. Sempre passamos por crises, acidentes e acontecimentos ruins em todas as áreas. Então, é preciso aceitar então o imprevisível, sem tentar antecipar os grandes eventos.

Mitigar fragilidades, sem controlar o ambiente é o primeiro passo do frágil para o robusto. E aproveitar, depois de protegido, das fragilidades do ambiente é o passo para a antifragilidade.

E PRECISAMOS SER ANTIFRÁGEIS!

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